sábado, 4 de dezembro de 2021

Épicos - cap. 6: Lar, doce lar

 









Era quase meio-dia quando Olívia chegou a sua casa, em Selvadorada. Fazia quase três anos que ela não ia lá e mesmo assim viu que pouca coisa havia mudado. Em casa se encontravam sua mãe e a tia Consuelo.

Olívia foi para o seu quarto deixar a mala, e sua mãe a acompanhou, explicando as mudanças ali.

Angelita: Tivemos que tirar aquele guarda-roupa porque tava cheio de cupim, aí seu pai colocou essas prateleiras enquanto faz outro. E suas coisas estão nas caixas e no baú, depois veja o que você não quer mais pra jogar fora.

Olívia: Parece que ficou melhor assim. O quarto ficou mais espaçoso. Dá pra colocar outra cama aqui...

Olívia: Agora o que não mudou nada foi a cidade. Tá tudo igualzinho a última vez que estive aqui...

Angelita: Ah isso aqui parou no tempo, há muito tempo!

Elas riam.

Angelita: Agora a novidade: Estamos pensando em nos mudar pra Oasis Springs.

Olívia: Sério? Quando?

Angelita: Esse é o problema... Quando ainda não sabemos. Por mim, já estaríamos lá, mas seu avô não quer deixar Selvadorada por nada! Seu Ramires é muito apegado a isso aqui...

Olívia (desanimada): Ah então não vão sair nunca daqui, se depender dele...

Angelita: Estamos tentando convencê-lo, mas é difícil... Bom, depois conversamos, eu preciso terminar o almoço.

Olívia: Eu desço já pra ajudar, só vou fazer uma ligação...

Angelita: Aqui não tem sinal de celular, esqueceu?

Olívia: Ainda tá assim?

Angelita: Pois é. Ah e coloque uma blusa que cubra essas tatuagens. Seu avô deve estar chegando com seu pai.


Olívia (pensando): Sem celular... Sem internet... Vou ficar sem falar com o pessoal por um tempo...

Olívia: É mesmo um lugarzinho parado no tempo... A melhor coisa que eu fiz foi ter saído daqui assim que fiquei maior de idade. Selvadorada só é boa pra passar uns dias. Não sei como tem pessoas que conseguem viver aqui...

Ela trocou a blusa e foi ajudar a mãe com o almoço.

Momentos depois, o pai e o avô chegaram.

Seu Ramires nem terminou de cumprimentar a neta e já correu pra televisão.

Consuelo: Pai, nem vá pra TV que o almoço já tá na mesa.

Durante o almoço Olívia contava como era Britechester, a faculdade, a nova casa que alugou e os lugares que conheceu.

Seu Ramires: O mundo tá mesmo mudado... No meu tempo as moças não saíam pelo mundo sozinhas, assim como um homem!

Consuelo: Ah pai... Isso faz muito tempo que mudou! Só Selvadorada que não acompanha o progresso do resto do mundo.

Hector: É verdade. Aqui vai ser sempre esse lugarzinho atrasado. Olívia fez bem em ir pra Britechester.

Olívia: Mas não é só por ser um lugar atrasado, eu saí daqui porque queria conhecer outros lugares, outras pessoas. E eu tenho aprendido tanto viajando pelo mundo. Conheci tantas cidades e culturas diferentes!  Gosto disso. E quero aprender o máximo que puder!

Seu Ramires: Mas você é daqui. Deveria valorizar a sua terra!

Olívia: Eu não estou desvalorizando a minha terra, vô. Desde pequena que eu tinha esse sonho de conhecer outros lugares! Eu gosto daqui, só não penso em voltar a morar.

Depois do almoço, Olívia saiu pra dar uma volta na cidade. No finalzinho da tarde ela ficou no lugar que costumava ir pra ver a lua surgindo por trás das montanhas.


Olívia (pensando): Como é bom te ver daqui! Era o que eu mais sentia falta desse lugar!

Olívia estava meio confusa com o que sentia. Estava tão feliz por estar ali. Tudo era tão familiar, mas ao mesmo tempo ela sentia que não pertencia àquele lugar. Ficou ali mais um momento e quando voltou pra casa já era noite.

Às oito da noite não se via mais uma viva alma na rua. Era um silêncio só quebrado pelos grilos.

Diva (entrando na casa dos Ramires): Boa noite, seu Ramires. Eu soube que a Olívia tá aqui, é verdade?

Seu Ramires (sem tirar os olhos da TV): É sim, Diva. Chegou hoje. Tá lá fora com Angelita e Consuelo.

Diva era uma amiga de infância de Olívia. Elas haviam estudado juntas até o colegial, mas não mantiveram contato desde que Olívia saiu de Selvadorada.

Diva: Nossa! Pensei que não ia voltar mais.

Olívia: Pois é, resolvi passar as férias desse ano aqui.

Diva: Passar as férias? Mas eu pensei que você tava voltando a morar aqui...

Olívia: Não, Diva. Eu ainda estou cursando a faculdade e não pretendo voltar a morar aqui.

Diva: Ah que pena... Pensei que ia ter uma amiga de novo aqui... Sabe que tão todos da nossa turma indo embora... Só ficamos eu e o Diego... Nossa, mas você tá tão bonita! Parece atriz de novela!

Olívia: Obrigada. É a maquilagem que ajuda...

Diva: Ah se meu pai me deixasse usar essas coisas ia te pedir emprestado...

Olívia: Você é adulta. Qual é o problema?

Diva: Mesmo assim. Se eu usar isso é capaz dele me expulsar de casa...

Olívia: Você deve enfrentar essas coisas, Diva. Ou sua vida não muda. A não ser que você prefira assim.

Diva: Eu queria ter a coragem que você teve pra sair daqui sozinha e conhecer o mundo. Tenho tanta vontade de conhecer San Myshuno... Se pudesse morava lá.

Consuelo (pensando): Quem não te conhece que te compre, Diva...

Olívia: San Myshuno é a maior cidade que eu já conheci. Maior até que Del Sol Valley.

Diva (ficando entusiasmada): Você conhece Del Sol Valley?

Olívia (pegando o celular e mostrando fotos): Claro, eu tenho umas fotos de quando eu fui lá... Se tivesse internet te mostrava outras mais...

Diva: Aqui tá pegando internet lá no mercado.

Olívia: Sério? 

Diva: Pois é. Finalmente colocaram de tanto que os turistas reclamavam...

Elas ficaram por mais um tempo conversando até Diva voltar pra casa.

No dia seguinte, pela manhã, Olívia não perdeu tempo e seguiu para o mercado pra tentar falar com Raquel.


Raquel: Finalmente! Pensei que tinham te roubado o celular! Passei um tempão te ligando ontem pra saber como foi a viagem...

Olívia: A viagem foi tranquila. Cheguei rápido. O problema aqui em Selvadorada é que só pega internet em um lugar...

Raquel: Bem, pelo menos pega... Agora eu tenho uma notícia triste lá do clube: a Gisela e o Artur terminaram.

Olívia: O quê?

Raquel: Isso mesmo. Ele tá arrasado e ela tá pensando em sair do clube.

Olívia: Ah meu santo! Mas isso tem a ver com aquela história do computador?

Raquel: Olha, pra ser sincera, eu acho que isso contribuiu também. Mas a verdade é que esse namoro já vinha mal há muito tempo. Eu sabia que isso tava prestes a acontecer...

Olívia ficou sem saber o que dizer. Pensava em Artur e sentia tristeza por ele estar passando por isso depois de tentar ajuda-la.

Raquel: Olívia?

Olívia: Tô aqui. É que fiquei mesmo passada com essa história... Como eu queria não estar envolvida nisso...

Raquel: Não se sinta culpada, Olívia. Como eu disse isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Mas não se preocupe que logo tudo volta ao normal... Eu e as meninas estamos tentando convencer a Gisela a não deixar o clube, mas acho que ela não vai à reunião dessa semana...

Olívia: Ela deve tá me odiando...

Raquel: Odiando por quê? Você não fez nada pra ela...

Depois que terminou a ligação, Olívia ficou andando pela cidade sem prestar atenção a nada. Só vinha a sua mente a imagem do clube e principalmente de Artur.

No dia seguinte ela saiu pra fazer uma caminhada pela selva.

Tentava afastar o pensamento do clube, mas era inútil. Só quando retornou à cidade, encontrando alguns conhecidos, ela pôde esquecer um pouco..


Os assuntos eram sempre os mesmos. Se tivesse alguma novidade, certamente envolvia algum turista esquisito. Dali ela seguiu pra casa.



Olívia: Adoro a água daqui! Tem um gostinho tão bom!

Consuelo: E água agora tem sabor?

Olívia: Não sei como explicar, mas é um gosto diferente.

Angelita: É porque a água daqui é pura. Aqui não tem poluição.

Olívia: Pois é. Essa é uma das vantagens daqui. Aposto como isso vai ser a primeira coisa que a Diva vai estranhar quando for a San Myshuno.


Consuelo: Ah por falar na Diva... Não dê muita confiança a ela, não. A Diva mudou muito esses anos. Não é mais aquela amiguinha sua do passado.

Angelita: É verdade. Já ouvi cada história dela...

Olívia: Sério? Mas o que ela anda aprontando?

Consuelo: Arranja dinheiro se deitando com turistas e alguns até casados.

Olívia ficou perplexa.

Angelita: E essa ânsia de ir pra San Myshuno é porque conheceu um turista que é de lá e se apaixonou.

Consuelo: Tenha cuidado:  aquela ali não dá ponto sem nó...

Olívia foi pro quarto, descansar. Mesmo pasmada com o que acabara de saber sobre Diva, ela facilmente voltava a pensar em Artur. Ficou assim por uns instantes e logo caiu no sono.

Estava tão cansada e lhe veio uma paz como há muito não sentia. Conseguiu relaxar tanto que sentia como se estivesse voando e ia cada vez mais alto, até que ela avistou Selvadorada, lá embaixo.

De repente estava na janela do seu quarto, olhando a rua, as casas...

E quando viu a lua rapidamente foi transportada pra o lugar onde costumava ir pra vê-la surgindo. Mas ao invés da lua, era o sol. E lá ela não estava só...

Conversava com alguém e sentia um enorme bem-estar.

Ao acordar, Olívia ainda mantinha a sensação agradável que aquele sonho causou, porém não conseguia lembrar nada


Quanto mais tentava lembrar, mais o sonho escapava. Até que ela conseguiu se lembrar de uma imagem:


Olívia: Eu ando pensando demais nele...








2 comentários:

  1. Genteeeeeeeeee, surtei aqui com o sonho dela com o Artur (embora eu ainda ache o Érick toooooooop! Rs...)!!! \o/
    E que capítulo maravilhoooooooooso!!!
    Selvadora é muito lindaaaaaa!!! Há algumas ideias retrógradas por lá, mas Olívia não deixou que ninguém a limitasse, o que é ótimo!
    Fiquei com pena de Diva. Não me parece que ela fez boas escolhas, mas ela tem uma ânsia gigante para sair dali e viver de uma forma mais livre. Espero que ela consiga. :)

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    1. Esse episódio eu me inspirei num lugarzinho de interior que eu vivi quando criança. As pessoas são bastante conservadoras mesmo, principalmente os mais velhos. Obrigada pelo "capítulo maravilhoso"!!😊💕

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