Épicos - cap.10: Reflexões

 

Era a primeira noite de Olívia ali no Epi-Centro. Sozinha.

Estava naquela varanda há quase meia hora olhando a paisagem e relembrando momentos de sua vida. Pensou em Selvadorada e em sua família. Já tava com saudades e lembrou-se de escrever logo pra eles informando o novo endereço (ainda que provisório). Ela queria muito que eles conseguissem convencer seu avô a ir morar em Oasis Springs, pois assim ficariam mais perto dela.

Ao pensar nisso, ela teve a ideia de começar sua busca por uma casa pra alugar por lá.

Mais uns minutinhos ali, e então ela desceu pra beber água.

Ficou a olhar o galpão enquanto bebia. Era estranho aquele lugar silencioso. Mais estranho ainda era “morar” ali. Logo vieram as lembranças de quando entrou para o clube. Então lembrou-se de outro momento em que o Epi-Centro estava silencioso: o dia que ela conversava com Artur enquanto esperava o pessoal chegar.

Olívia (pensando): Foi tão agradável estar com ele, mesmo que por pouco tempo. O desânimo que eu sentia passou instantaneamente quando ele veio na minha direção!

 

Se distraiu relembrando aquele dia. O sono não vinha e ela ficou mais um tempo ali.

Pensou no dia que entrou ali pela primeira vez.

A primeira vez que viu o Artur.

Ele chamou sua atenção de uma forma que nunca lhe havia acontecido.

Sentia o coração bater mais forte sempre que ele a olhava.

E ele fazia com uma certa frequência, como se fosse dizer algo. Mas apenas a olhava. Esse jeito dele a encantava.

Então quando ela estava prestes a falar sobre ele com Raquel, soube que ele namorava Gisela.

Foi como um banho de água fria.

Desde então decidiu esconder o que sentia e tentou tirá-lo da mente. E agora? Agora ele estava só e ela notava que Artur continuava com aquele olhar pra ela.

Olívia (pensando): E o que foi aquilo? Ele disse que “sentiu muito a minha falta” de uma forma tão sincera, junto com um abraço tão caloroso, que quase me fez esquecer o que eu fui fazer ali...

Foi para o quarto com o pensamento ainda naquela tarde.

Olívia (pensando): A Kelly foi a que mais mudou desde que a conheci. Naquele dia tive uma forte impressão de que não era bem-vinda por ela e Viviane. Hoje conversa comigo numa boa... Mas será que está tentando amizade mesmo? Será que ela me passou a coreografia por isso ou ela só tá querendo me arranjar um problema? Sim, porque se não formos bem, vai ser fácil jogar a culpa em mim... Agora quanto a Viviane, Gisela e Érick, esses apenas toleram a minha presença. Pelo menos é o que demonstram...

Ficou mais um tempo analisando aqueles dias no clube, depois caiu no sono.

 

Manhã seguinte, Del Sol Valley

A tempestade que tinha passado há quase uma semana deixou o céu da cidade ainda nublado por muito tempo.

Residência dos Hogan

Érick: Bom dia, mãe. O papai já saiu?

Débora: Bom dia, Érick. Não, ele nem tomou café e já tá aqui no celular... 

Débora: Aproveitando que ele tá ali, vou te contar o que eu tô planejando pra o aniversário dele...

Érick: Ah não, mãe! Festa surpresa de novo? O pai nem se surpreende mais. Já deve até tá ensaiando a cara de espanto que vai fazer dessa vez...

Débora: Seu bobo! Não é festa surpresa, é uma surpresa na festa. Eu queria que você chamasse seu irmão. Antony ia ficar muito feliz se ele viesse. Faz muito tempo que eles não se vêem...

Érick: Ok, eu vou falar com ele. Mas acho difícil que o Artur venha... Bem, hoje mesmo vou com ele ao Epi-Centro porque tá chegando um equipamento que a gente comprou, e lá eu converso com ele.

Antony (depois de se servir): De repente ficaram calados... Do que estavam falando?

Érick: Nada... Só planejando sua festa surpresa... Eita! Escapuliu!

Débora: Muito engraçadinho!

Eles riram.

 

 

De volta ao Epi-Centro

Já passava das dez quando Olívia foi acordada pelo barulho de móveis sendo arrastados.

Depois que o pessoal da loja deixou o equipamento de ginástica ali, Érick falou sobre o aniversário do pai deles.

Artur: Não acho uma boa ideia, Érick... A sua mãe não vai gostar nada de me ver lá...

Érick: Mas foi ideia dela.

Artur: Ah, foi?  (Artur parecia não estar muito interessado no assunto) Que acha de colocar esse selo lá embaixo?

Érick: Não, é melhor guardar. Mas então? Vai pro níver do pai?

Artur ficou calado. Érick já conhecia aquele silêncio e preferiu não insistir naquele assunto por enquanto. Nesse momento Olívia saía do quarto.

Olívia (pensando): Tinha que ser!

Érick: Olha só! Dormiu aqui?

Olívia (indo até a cafeteira sem olhá-lo): Pois é. Graças a você eu não tenho pra onde ir!

Érick: Eu não me lembro de ter te mandado sair do alojamento...

Olívia: Como é cínico!

Artur (confuso com aquela cena): Mas o que tá se passando aqui?

Olívia tomou um susto ao se dar conta que Artur também estava presente.

Artur: Por que estão brigando?

Érick: Eu não tô brigando. Eu falei na boa, mas ela só fala comigo dessa forma...

Olívia ficou calada enquanto pegava o café. Reconheceu que foi um pouco exagerada, mas ainda culpava Érick por ela estar naquela situação.

Artur: Pode me explicar isso melhor?

Érick: Ela tem uma rixa comigo desde quando eu cheguei no alojamento em Brites... Ela sempre implicava com o som que eu colocava... Mas eu não pensei que ela fosse sair de lá por causa disso.

Olívia: Pois foi por conta disso mesmo que eu saí de lá. Era impossível me concentrar nos estudos!

Érick: Engraçado é que só você implicava com o som. Mais ninguém.

Olívia: Como vamos saber?

Érick: Fala sério, Olívia! O problema é que você nunca foi com a minha cara! Não sei por que, mas a verdade é essa! Nem me conhecia e só se dirigia a mim com quatro pedras na mão, eu revidava porque também não tenho sangue de barata, agora eu posso provar como nunca tive problemas com ninguém no alojamento! Pelo contrário! Só tenho amigos! E são muitos! Você não pode dizer o mesmo!

Olívia: Não tenho nada contra a sua pessoa, Érick. Mas o fato é que o seu comportamento acabou me atrapalhando muito e paciência tem limites! E quanto aos amigos, eu nunca me importei com a quantidade, mas com os verdadeiros amigos!

Artur (respirou fundo tentando falar calmamente, pois já estava bastante aborrecido): Não sabia dessa desavença de vocês! Confesso que estou surpreso!

Vendo a expressão de Artur e seu olhar fixo nela, Olívia sentiu um aperto no coração.

Érick: Não esquenta, mano.  Não é nada que vá comprometer a união do clube... Eu nunca tive nada contra ninguém aqui no Épicos.

Olívia: Bom, eu também não tenho nada contra ninguém aqui... E peço desculpas por isso... (ela respirou fundo pra continuar) ...Aos dois.

Érick: Tá tranquilo.

Artur não respondeu.

Ele ficou olhando Olívia. Era a última pessoa que esperava envolvida em desentendimentos ali. E logo com seu irmão.

Olívia terminou o café e saiu.

 

À noite estavam todos lá pra começar os ensaios e treinos.

Pra definir as duplas feminina e masculina que iam disputar tênis de mesa, eles fizeram um pequeno torneio ali e os que se saíssem melhor formariam as duplas. No feminino elas jogaram todas contra todas e as melhores foram Olívia e Viviane. No masculino eles optaram por se dividir em duas equipes.

Betsy: Olha lá: Os Três Mosqueteiros contra Os Três Patetas!

Raquel riu: Ai Betsy, nem o Danilo escapa! Coitado...

Betsy: Bem, eu tô torcendo pros três patetas, e vocês?

Raquel: Os três mosqueteiros, claro!

Betsy: E você, Olívia?

Olívia: Eu acho que vai dar empate...

Raquel: Só que não dá empate nesse jogo.

Olívia: Meu palpite é que a dupla vai ser formada por um mosqueteiro e um pateta...

Olívia se distraía vendo o jogo, quando notou Artur a olhando.

Ainda parecia bem chateado com ela.

Raquel: Olívia, acorda!

Raquel: Vamos ensaiar, ou não?

Logo elas começaram a ensaiar a coreografia criada por Olívia.

E os rapazes pararam pra assistir

Muitas fora do ritmo ainda, mas Olívia gostava do que via. As meninas levavam jeito pra dança. Não ia ter muito trabalho pra deixar o grupo entrosado.

Kadu: Minha noiva tá nos trinks!

Danilo: Noiva?

Érick: Noiva?

Kadu: Noiva?

Danilo: Foi você que disse, seu atormentado...

E o palpite de Olívia tava certo, a dupla masculina foi formada por Kadu e Alfredo.

ID do criador da casa dos Hogan: paszerine